Mas antes de explicar o que mudou, vamos lembrar o que é o BPC.
O BPC, também chamado de LOAS, é um benefício garantido por lei para pessoas que vivem em situação de pobreza. Existem dois grupos que podem receber:
Pessoas com 65 anos ou mais;
Pessoas com deficiência, de qualquer idade, que tenham impedimentos físicos, mentais ou intelectuais de longo prazo.
Para receber, é preciso comprovar que a renda por pessoa da família é menor que um quarto do salário mínimo. E não é necessário ter contribuído para o INSS, porque o BPC é um benefício assistencial, e não previdenciário.
A principal mudança foi no cálculo da renda da família. Antes, o valor do Bolsa Família não entrava na conta. Ou seja, mesmo que uma família recebesse o Bolsa Família, isso não era considerado como renda para decidir se alguém teria direito ao BPC.
Com a nova regra, isso mudou. Agora o Bolsa Família entra no cálculo da renda familiar. Isso pode fazer com que muita gente ultrapasse o limite permitido e tenha o benefício negado ou até cancelado.
A mudança aconteceu porque o governo entendeu que não pode mais deixar de contar o Bolsa Família na renda, já que a lei que trata do BPC não autoriza essa exclusão. O trecho do decreto anterior que permitia isso foi revogado (ou seja, foi cancelado).
Vamos imaginar uma família com quatro pessoas. Elas recebem R$ 600 de Bolsa Família e mais R$ 300 de outros rendimentos (como um bico ou pensão). No total, a família recebe R$ 900 por mês.
Antes da mudança, o Bolsa Família não era contado. Então o INSS só levava em conta os R$ 300. A renda por pessoa era de R$ 75, o que está abaixo do limite exigido (R$ 353,75 em 2025, que é ¼ do salário mínimo de R$ 1.415).
Com a nova regra, os R$ 600 do Bolsa Família também são somados. A renda da família agora será considerada como R$ 900. Dividido por quatro pessoas, a renda por pessoa sobe para R$ 225. Ainda está abaixo do limite, mas se a família tivesse algum outro valor extra, já poderia ultrapassar o limite e ter o benefício negado.
Mesmo quem já está recebendo pode ser afetado. O INSS tem autorização para revisar os benefícios a qualquer momento. E com essa nova regra, ele pode entender que o benefício foi concedido com base em um cálculo errado e suspender ou cortar o pagamento.
Além disso, a nova norma permite que o INSS reavalie a situação do beneficiário sem precisar esperar dois anos, como era antes. Isso significa que mais pessoas podem ser chamadas para apresentar novos documentos ou atualizar o Cadastro Único.
Sim. O governo não proibiu o recebimento dos dois benefícios ao mesmo tempo. O que mudou foi que o valor do Bolsa Família agora é contado como parte da renda da família. E isso pode acabar impedindo o acesso ao BPC, se a renda por pessoa passar do limite permitido.
Se você ou alguém da sua família recebe o BPC ou está pensando em pedir, é importante prestar atenção nesses pontos:
Verifique a renda da sua família, somando todos os valores recebidos, inclusive o Bolsa Família;
Mantenha o Cadastro Único sempre atualizado;
Guarde todos os documentos que comprovem seus rendimentos e a situação de saúde (no caso das pessoas com deficiência);
Se o benefício for negado ou suspenso, procure um advogado especializado ou o CRAS mais próximo. Pode ser possível entrar com recurso ou até ir à Justiça, dependendo do caso.
Texto de Dr. Rubem Bruno
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